terça-feira, 15 de março de 2011

O DESENHO ANIMADO PATO DONALD / TIO PATINHAS

O DESENHO ANIMADO PATO DONALD / TIO PATINHAS




O livro pequeno e divertido “PARA LER O PATO DONALD”, publicado no Chile, início da década de 1970, provocou barulho no mundo fantástico dos quadrinhos. Os autores Ariel Dorfman e Armand Mattelart escrevem esse livro, de inspiração marxista, num período em que o governo de Salvador Alende tentava sobreviver às pressões do imperialismo americano.
A intenção, há quem diga, dos autores era de denunciar a ideologia imperialista que dominava as ‘aparentes e inocentes’ histórias infantis da Disney.
Dorfman e Mattelart pareciam acreditar que as histórias em quadrinhos de Tio Patinhas e companhia (Pato Donald, Margarida, sobrinhos Huguinho, Luizinho e Zezinho ) preparavam ou incutiam valores na criançada do Terceiro Mundo para serem subservientes aos países de Primeiro Mundo, e é óbvio, em especial aos EUA.
Pontos da ideologia nas historinhas de Tio Patinhas /Pato Donald:
1- Com relação à vida familiar:
-Nas histórias de Pato Donald e companhia, não há nenhum vínculo familiar direto nas histórias de Pato Donald e seus amigos - todos são tios ou sobrinhos de alguém.
-Estratégia de Disney para mortalizar os personagens transformando-os em símbolos numa sociedade que refletia a dominação capitalista.
-O perfil de ser humano bem sucedido e, por conseguinte feliz seria, o rico, ou aquele que possuía riquezas.
2- Os personagens são movidos apenas pela ambição ao dinheiro.
3-Não há relações de amizade desinteressada apenas relações comerciais:
- Ninguém ama ninguém jamais há um ato de carinho ou lealdade ao próximo.
-O homem está só em cada sofrimento: não há uma mão solidária ou gesto desinteressado.
-O amor de Margarida nos quadrinhos é personificado quase sempre como interesse financeiro, como exemplo uma conversação em um dos gibis:
MARGARIDA: Se você me ensina a patinar esta tarde darei uma coisa que você sempre desejou.
DONALD: Quer dizer?...
MARGARIDA: Sim... A minha moeda de 1872.
SOBRINHO: Uau! Completaria nossa coleção de moedas, Tio Donald!
METÁFORAS E INTERESSES
Superior- Tio Patinhas (EUA) –Patópolis.
Subordinados/Subservientes-- países de Terceiro Mundo
No mundo de Disney (Patópolis) ou a representação dos EUA, todos os povos são americanos. Enquanto são mostrados de forma depreciativa – os povos não civilizados, metáfora do Terceiro Mundo é como crianças, afáveis, despreocupados, ingênuos, felizes, tem ataques de raiva, quando são contrariados, mas é muito fácil aplacá-los com presentes de quinquilharias.
Numa aventura , por exemplo, Donald parte para a longínqua Comgólia. Lá, os negócios do Tio Patinhas estão sendo prejudicados porque o rei proibiu seus súditos de se darem presentes de natal, pois todo o dinheiro deve lhe ser entregue. Ao chegar de avião, o pato é tomado por um deus e acaba destronando o rei. Sua primeira ação é ordenar que todos comprem presentes para suas famílias. Quando as vendas terminam e os armazéns do Tio Patinhas estão vazios, Donald devolve a coroa ao rei, agora mais sábio do que antes. O governante aprendeu que, para se manter no poder, precisa se aliar ao capitalismo internacional.
ANALOGIAS:
1-As lutas de classes são ridicularizadas. Numa aventura que é referência direta à guerra do Vietnã, os guerrilheiros param de lutar para curtir soneca após o almoço. Em outra situação, um grupo de hippies está fazendo uma manifestação contra a guerra. Ao vê-los Donald oferece limonada de graça, é o bastante para que a passeata se desfaça.No mundo de Disney, os idealistas vendem seus ideais por uma jarra de limonada de graça.
2-Donald é também “vitima” desse mesmo imperialismo. O Tio faz e desfaz dele e obriga-o a viajar a regiões mais longínquas do planeta e jamais o recompensa satisfatoriamente.
{Alguns estudiosos posteriores se perguntaram por que Donald não se rebela contra a tirania do tio. A resposta é simples : está na analogia 3:}
3-A esperança que Donald tem de um dia herdar a fortuna de Patinhas. Da mesma forma a América latina tem a esperança de se tornar um país desenvolvido. Criou-se até a expressão ‘países em desenvolvimento’ para expressar essa vontade.
4-Mas o Tio Patinhas nunca morre. Aliás é bastante provável que ele sobreviva ao sobrinho, pois é sempre Donald que se arrisca nas missões perigosas.
O livro “Para Ler o Pato Donald” trata de temas como a falta de progenitores nos quadrinhos Disney, a relação com o universo feminino, a busca incessante das personagens pelo ouro, o dinheiro como fim último em praticamente todas as histórias, como são retratados os países para qual as personagens viajam entre outros. Muito válido para quem deseja conhecer um pouco mais do universo Disney e sobre a utilização de quadrinhos como meio de propaganda de ideologias. Claro que, por se tratar de um livro com viés político, algumas partes são exageradas. Cabe ao leitor saber o que vale a pena levar a sério. Uma dica, depois ou durante a leitura do livro, leia também quadrinhos da Disney para perceber o que realmente tem fundamento.
FONTES: Gian Danton (Discutindo Filosofia - Revista Especial 05)
Livro: Para Ler o Pato Donald
O CAPITAL, Karl Marx

Nenhum comentário: